Pierre Bonhomme, o Fundador

O Mensageiro de Maria

Foi sua mãe que despertou no coração de Pedro Bonhomme, a devoção a Maria. Nesse coração tão terno e receptivo, os dois amores se fundiam. Filho de Gramat, Pedro Bonhomme foi também filho de Rocamadour, para onde sua mãe o conduzia pela mão, nas peregrinações àquele santuário Marial. O terço, oração do devoto de Maria, foi a oração preferida do Pe. Bonhomme, durante toda a sua vida.

Maria, a confidente de sua vida

A confiança em Maria tinha algo de terno, de filial… ela era a confidente de todos os seus pensamentos, a orientadora de todos os seus empreendimentos, a mediadora de tudo o que ele pedia a Deus, a esperança de suas obras, sua boa mãe, como ele a chamava. A Maria, ele devia sua vocação, confiava suas lutas, entregava seu apostolado.
Pe. Bonhomme tinha grande devoção à Nossa Senhora do Calvário e, por isso, escolheu, para a Congregação nascente, o nome de: Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário. O Pe. Bonhomme sabia que as obras fecundas nascem e se desenvolvem ao pé da cruz.

Sua prece a Maria

“Santíssima Virgem, minha boa mãe, meu apoio, meu tudo junto de Deus, dignai-vos proteger-me, ainda que eu seja indigno. Coloco minha salvação em vossas mãos. Entrego-me todo inteiro à vossa disposição. Vossas menores inspirações serão ordens. Fazei somente que eu as conheça, e eis-me disposto a executar todas as vossas vontades. Feliz, mil vezes feliz, se, depois de ter experimentado vossa proteção na terra, eu não me torne indigno por minha conduta, de testemunhar no céu, meu eterno reconhecimento”

O Peregrino de Rocamadour

No dia 12 de setembro de 1832, o Pe. Bonhomme foi nomeado pároco da Igreja de Nossa Senhora de Gramat. Todos os anos na segunda-feira de Páscoa, uma verdadeira multidão se dirigia a Rocamadour. Em procissão, bandeira na frente, terço na mão, a multidão manifestava seu gesto coletivo como resposta ao gesto gracioso de Maria.
O santuário de Rocamadour estava abandonado. O Pe. Bonhomme via com pesar o deserto e a ruína daquele lugar, cuja glória fora tão grande nos séculos da fé. Ia com frequência, a pé, visitar o santuário e rezar aos pés da Virgem Negra. Quando se punha em oração, não sabia mais sair dali. Em pouco tempo ele não ia mais sozinho. Grupos de paroquianos o acompanhavam.
Podemos dizer que o Pe. Bonhomme teve parte ativa no movimento de restauração das peregrinações ao santuário de Rocamadour. Em linguagem amável, dizia que para se fazer uma boa peregrinação, três coisas eram necessárias: amor de Deus e de Maria no coração, a chuva ou a neve nas costas e a fadiga nas pernas.
O Pe. Bonhomme passou para a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário esta tradição das peregrinações a Rocamadour. Com frequência, ele as conduzia para lá, intercalando meditações, cantos, terços, reflexões. Nenhuma de suas palavras era perdida. Pode-se dizer que o amor a Nossa Senhora de Rocamadour nasceu no coração das Irmãs desde a origem, quando aos pés da Virgem Negra, a Congregação nascia”.

O último adeus à Rainha do Quercy

No dia 8 de setembro de 1861, na véspera de sua morte, o Pe. Bonhomme toma o caminho de Rocamadour, certo de encontrar uma condução que o levasse ao santuário. Um imprevisto obrigou-o a seguir a pé. A estrada estava deserta. Certamente foi a Mãe do Rochedo que permitiu esta provação para que ele concluísse seu itinerário como o havia começado, para que pudesse oferecer uma última prova de amor e que ele fizesse uma verdadeira peregrinação na solidão, na angústia, no cansaço, até o fim…
Autêntico Peregrino

O Pe. Bonhomme foi um autêntico peregrino. Sua vocação era itinerante. Seu elan missionário extrapolou o santuário de Rocamadour, tornando-o mensageiro de Maria em toda a diocese de Cahors. Possuía em plenitude o espírito de peregrino, que hoje chamamos de espiritualidade da estrada. Ele era um admirador da obra do Criador.
Rocamadour proporcionou-lhe a contemplação da beleza serena, da calma das noites de luar. E o rochedo? A firmeza e a concretude de sua fé.

 

O Missionário

Há pessoas que Deus parece ter criado para serem missionárias e que sofrem quando não conseguem realizar tal vocação. Com o Pe. Bonhomme acontecia exatamente isso. Tinha uma vocação imperiosa para ser missionário e missionário diocesano para dar uma resposta às exigências da atualidade.

“O Pe. Bonhomme nasceu missionário.
Era insubstituível.
Nunca vira nada igual”.

O Pe. Bonhomme acalentava mil sonhos. Não podendo multiplicar seus colaboradores, multiplicou-se a si mesmo: “Ganhemos almas! Repousaremos no céu!”. Ao ser solicitado, parte solícito, pronto, devotado. A cada missão leva todo seu ardor, toda a sua alma, todo o seu coração. Que importam os sofrimentos, quando se trata de estender o Reino de Jesus Cristo.

 

O apóstolo dos campos

Pe. Bonhomme, originário da pequena cidade de Gramat, conservava a influência positiva da simplicidade rural. Sua missão extrapolava as cidades e as vilas, e se lançava pelos campos, para estar em contato com as pessoas mais necessitadas.
Caminhava a pé, para estar mais perto das pessoas e de Deus. Isto lhe permitia parar toda vez que encontrasse grupos de camponeses trabalhando a terra. Falava-lhes em parábolas para se fazer entender pelo povo simples, e por vezes, analfabeto. Infatigável, vencia longas distâncias a pé e dizia: “não acho o caminho longo, fazendo minhas orações”.

 

O simples entre os simples

O caminho, a pé, era um meio pobre, aquele dos pequenos de sua época. Sua botina surrada, seus sapatos grossos, eram usados de noite e de dia, em todas as estações. Andava a sós pelos caminhos, todo entregue à oração.
Para se aproximar dos simples, falava o dialeto “patois” que era a linguagem mais comum dos camponeses do Quercy. Achava em toda parte assuntos de meditação, de reflexão, de pregação: uma árvore, o rochedo, a colheita de trigo… Para se adaptar às pessoas simples, ele pregava durante os seis meses de inverno na zona rural, onde havia menos trabalho nesta estação.

O autêntico Apóstolo dos campos

Tinha um talento especial para se comunicar com os simples e camponeses. Percorria toda a região, a pé, com sol, chuva, neve, vento… para estar perto daqueles que estavam mais longe.
Falava a linguagem simples do povo e estabelecia uma comunicação íntima e direta com os ouvintes. Partia de exemplos concretos de sua vida diária, para tocar os corações. Qualquer ocasião ou situação, era motivo para uma palavra de exortação.

O Sacerdote

O Amante da eucaristia

A celebração da Eucaristia era, para ele, o ponto culminante de seu dia. Os que participavam da celebração ficavam impressionados com sua piedade, concentração, fé viva e recolhimento. Podia-se dizer que cada dia ele celebrava a Eucaristia como pela primeira vez, tal era sua emoção e sua piedade.
Depois de sua ordenação sacerdotal, voltou para Gramat, para celebrar sua primeira missa no dia de Natal de 1827, cercado de carinho pela presença de seus pais, de seus familiares e de seus conterrâneos. Fortemente emocionado, fez memória de sua Primeira Eucaristia, ocorrida a 15 anos atrás. Agora, não apenas recebia o Senhor em seu coração, mas comungava aquela hóstia que ele próprio acabava de consagrar.

“Meu modelo é Jesus Cristo”

Ao ser ordenado sacerdote, recebeu, com profunda emoção, a recomendação solene que o celebrante, em nome da Igreja, dirigiu ao neossacerdote: “Imite o que você consagra. Ao imolar a vítima, torne-se vítima você também. Que o Deus imolado por você cada manhã sobre o altar do sacrifício, não seja para você somente objeto de adoração, mas, sobretudo de imitação”. E o Pe. Bonhomme fez de Jesus Cristo o seu modelo.

Eucaristia, escola do Calvário

“Ao celebrar cada dia a Eucaristia com a mesma fé e o mesmo espírito de sua primeira missa, o jovem sacerdote encontrava no altar, a escola da renúncia, a escola do Calvário”. A partir de sua ordenação sacerdotal não se pertence mais, ele se sacrificará inteiramente para ajudar os outros. “Cada manhã ao celebrar, ele se dará em holocausto ao próprio Jesus-Hóstia”.
“O altar, este novo Calvário, será para sua fé uma lição divina, uma perpétua lição de renúncia, de dedicação e, ao mesmo tempo, uma fonte viva de generosos e poderosas energias para sua fé e sua missão.

Devoção à Eucaristia

As duas devoções que alimentavam sua vida espiritual eram a devoção à Eucaristia e à Santíssima Virgem. “A Eucaristia é o pão com o qual nossa vida espiritual se alimenta. O pão em primeiro lugar. Os cristãos fortes são aqueles que vivem deste pão”. “Um dos principais frutos de seu ministério foi o de ter posto em evidência, na sua Paróquia de Nossa Senhora, a prática da comunhão frequente”.

A visita ao Santíssimo Sacramento e a adoração perpétua foram também estabelecidas entre as Filhas de Maria”. O Pe. Bonhomme era o exemplo de adorador. Muitas vezes, era visto prostrado em adoração diante do sacrário. Costumava também passar noites em Vigília Eucarística, principalmente nas festas de Nossa Senhora. Para ele, as duas devoções se completavam: Eucaristia e Maria.

O Educador

Pe. Bonhomme, o apaixonado pela educação, o sonhador realista, tendo como referencial o exímio pedagogo Jesus, ousou consagrar suas primeiras energias de Sacerdote na formação de crianças e jovens. Sua pedagogia ainda vem abrir caminhos para discussões que nos parecem delicadas e nos animam a ousar construindo novas respostas e estratégias sempre mostrando que o importante é “ganhar o coração pelo coração”, além de misturar bondade e firmeza. Nisto é possível reavivar o sonho, a utopia…
Sua atitude junto aos alunos era de afeição paternal, relação próxima, de respeito e amizade. Gostava de acompanhá-los nos passeios, acreditava que essa seria uma boa oportunidade para conhecê-los melhor. Sofria quando percebia nos mestres excessos de severidade. Sua pedagogia implicava numa relação nova fundamentada na bondade, na firmeza e no amor, sempre estimulando a partir da positividade, caso contrário, a sós ele conversava com o educador (a).
Tinha clareza da necessidade de parceria, escola – família. Muito querido pelos alunos, professores e pais, fazia questão de estar nas escolas, principalmente no final do ano, momento de encorajar os alunos e de estar junto aos seus pais. Ele iniciava seu comentário elogiando os trabalhos dos alunos, depois lembrava-os da finalidade das férias, que não deveria nem ser ociosa, nem cheia de atividades, mas era tempo de descanso na casa paterna, para depois retomar aos trabalhos com mais forças e mais ânimo. E ainda insistia na responsabilidade dos pais em fazer florescer o gérmen do bem que cada aluno traz em seu coração. Além de lembrá-los que os filhos não eram deles, mas de Deus e que por sua vez colocou-os sobre os seus cuidados, a partir da missão tão nobre e tão sublime de serem pais.
Frente a uma sociedade marcada pelo individualismo, pela violência, pela falta de amor que também são refletidas nas escolas, as Irmãs buscam na Palavra de Deus, no Carisma da Congregação e na realidade atual, dar novas respostas, criar novas estratégias, fazendo de seu serviço um processo consciente, com objetivos claros, visando mudanças necessárias, tendo como princípios a liberdade e a solidariedade. Além de permitir aos educandos uma formação humana e cristã, indispensáveis ao exercício da cidadania e fornecendo meios para que eles sejam, na essência, pessoas geradoras da Paz e da Justiça.